Determinados fatores externos desfavoráveis podem nos causar uma reação chamada de estresse. Em tais circunstâncias, o primeiro evento importante é uma descarga de adrenalina em nosso organismo. Tal famosa adrenalina, é por sua vez produzida pelas glândulas supra-renais, promovendo a aceleração dos batimentos cardíacos e uma diminuição dos vasos sanguíneos periféricos.
Olho a paisagem através da janela da aeronave e devaneio com os quadriculados das plantações em solo. Que lugar do mundo sobrevôo neste instante? Nem preocupo-me em saber, afinal estou de férias. Sendo justo, dei férias também para minhas supra-renais, pois baseado em meu cálculo demasiado cru, sem supra-renal não há adrenalina, logo, não há também o estresse.
São Paulo, minha fria São Paulo, onde para mim os arranha-céus são mais estilosos que os de Xangai, suas ruas mais limpas que as de Cingapura, e nosso transito, menos caótico que o de Paris. Desvairo, obvio, talvez pela alegria de estar em casa.
O transito, junto aos três andares de escada que tive que enfrentar com minhas malas, não ousaram a abalar-me o estado de espírito, pois minhas supra-renais encontravam-se de férias no Nepal.
Minha avó me salta aos braços, demonstrando um carinho que me faltarão vocábulos para aclarar nessas linhas. O coração bate diferente em um abraço de vó.
Entro em casa, e realmente vejo que estou em uma “casa de vó” com sua quase centena de bibelôs (muitos ainda da minha época de criança), quadros antigos, estante enorme, móveis, armários... coisas de casa de vó.
No quarto que um dia foi meu, há três televisores (nenhum funciona), um beliche, 2 guarda-roupas, uma máquina de costura e um armário o qual eu tive até medo de abrir.
Porque será que vó não joga coisa fora? Porque vó tem dificuldade em praticar o desapego dos bens materiais?
As avós são personagens marcantes em nossas vidas. A minha, tenta modernizar-se o quanto pode, comprou inclusive um celular recentemente, mesmo tendo debilitada visão decorrente de diabetes.
Com o avanço dos dias, nossa convivência passou a ficar... diferente. Ela passou a ter atitudes as quais tive dificuldade em lidar. Exemplo disso, quando me conecto a internet e em meio a algo importante, ela me pede pra sair e comprar cândida.Nao há como a internet vencer a cândida, ela nao quer nem saber. Outra situacao, quando chego da boemia as 6 da manhã, me aninho na cama e naquele delicioso estagio pré-sono, a luz do quarto ascende repentinamente, e lá está ela, com bolinho de chuva e um chazinho de capim cidreira.
Ia me irritar, mas acabei de ver um postal das minhas supra-renais em Ibiza, logo me acalmo.
Seria deveras rude, expulsar minha avó do quarto. Depois de uma hora de conversa ao lado da cama, ela resolve ir, apagando a luz e fechando a porta vagarosamente. Começo todo o processo de aninhar-me desde o inicio. Luz forte de novo em meu rosto:
_ Filho, tem certeza que não quer mais chá, vovó traz pra você...
A velha negra que outrora gorda, hoje é magrinha e curvada. O abatimento dos anos em seu corpo não afetaram em nada as aptidões culinárias. Toda vez que chegava da rua, me deparava com ela a beira do fogão. Casa de vó também cheira a cocada, pé-de-moleque, bolo e brigadeiro. Vó não respeita a lipo da gente. Elas tem em mente até cura pra tudo. Em uma das visitas de meu irmão, ele reclamou de uma frieira no pé esquerdo.
_ Ponha o pé numa bacia com sal e vinagre – receitou ela
Rio, imaginando meu irmão seguindo tal prescrição.
Outro dia um amigo me ligou, e me encontrava no banho.
_ Caco.... Cacoooo, Caquinhooooo
Por mais que eu me esforçasse a responder sob a ducha, ela não me escutava, pois chuveiro em casa de vó é antigo e barulhento, daqueles que quando ligado, diminui a força da casa toda. Desliguei e respondi que retornaria mais tarde. Na tentativa de religar o chuveiro, havia me esquecido que em casa de vó, a primeira rajada d’água sempre é fria. Tudo está perfeito, afinal minhas supra-renais estao num cruzeiro pelas ilhas gregas.
Tomo meu ultimo café da manha com os meus, chuchando o pão no chocolate quente, assistindo TV num volume um tanto alto ao que estou acostumado. Me despeço do quarto de luxo com 3 televisores, e olho a paisagem da minha real janela, a janela da minha casa. Nada interessante: prédios, postes e fio dos trólebus... Foi vendo essa paisagem que cresci. Abraço os meus com muito carinho e retorno.
O elevador panorâmico, me deixa no vigésimo sexto andar. Inconscientemente, tento buscar alguma semelhança com o azul das águas do golfo pérsico que vejo da janela do meu quarto, com os fios dos trólebus da minha real janela.
Tomo no dia seguinte, meu café da manha a minha maneira, mas resolvi chuchar o pão no chocolate quente, pois como dizem “a felicidade muitas vezes decorre da pureza de nossos costumes”. Vejo que ser um cidadão do mundo é algo muito gratificante, mas percebo que o reabastecimento da aura, é feita apenas no seio da família. Vou, viajo, mas volto sempre as minhas origens.
uma espécie de diário de bordo, que conta histórias reais na vida de um fanático por descobertas.
Pausa
Então, já que abriste a página, desligues teu blackberry, o msn e o skype e dedique-se quinze minutos de leitura nesse diario...
sexta-feira, 18 de junho de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Ô FIOooo....
Nossa, já estamos em maio. Parece que foi ontem que mandei mensagens de boas festas aos meus. Sinto como se o Ano Novo, Carnaval e Páscoa, aconteceram com apenas 15 dias de intervalo entre eles.
Porque essa sensação de que as 24 horas, os 365 dias estão em velocidade avançada?
Sol e Lua são os protagonistas na criação dos calendários, sejam eles o cristão, o hebreu, o islâmico ou mesmo o calendário gregoriano. Esses dois astros tinham cada um sua importância na elaboração de períodos de acordo com cada povo.
Mas o que acontece hoje? O sol e a lua correndo mais rápido, ou seria a Terra que está fora de eixo? Não sei se haveria uma resposta coerente, mas o tempo está passando depressa e consequentemente apressando vida de todos nós.
Nessa minha rotina de sobe em um país e desce em outro, tento criar hábitos normais como esporte e lazer; uma tarefa quase impossível uma vez que o fuso horário é um contrapeso importante. Ganho ou perco horas, dependendo onde me encontro no planeta. Gostaria de encontrar um lugar onde o tempo parasse, ou diminuisse a passada, dando uma pausa pra gente respirar.
Certo dia, acordei as 15h00, e depois de um farto prato de cereal, fui tomar meu banho.
Como qualquer ser humano vaidoso, há uma averiguação facial pesada em frente ao espelho e... o que eu encontrei, me deixou mais triste. Um fio de cabelo.. e não foi no meu paletó. Foi na cabeça mesmo, e era branco.
Fui obviamente acometido de um certo pânico, algumas palavras de baixo calão me escaparam... tudo absolutamente normal quando não se está preparado a ver um fio de cabelo branco que resolveu antecipar-se em anos.
Embora transtornado, me veio na memória uma cena cômica de minha infância: minha avó tingindo o cabelo com henê maru, utilizando para isso uma escova de dentes... as mãos todas sujas, coitada. Imagino agora o seu empenho em tal empreita. Se o eu com um fio estava fora de mim, imagino ela com todo um tufo de raiz grisalha.
Não, hoje vivemos na era do Ipad, Bluetooth, wi-fi. Se até computadores se desvencilharam dos fios, porque eu haveria de ter um em minha cabeça? E branco? Ainda estou longe da metade da minha trigésima decada de vida, e um fio de cabelo branco resolve antecipar a próxima fase da minha existência.
Sinceramente essa descoberta foi uma experiência nada agradável, por mais perfeita que esteja a harmonia do binômio "meu corpo/minha idade".
Fui então ao banco. Nada como uma volta no novo metrô de Dubai para me fazer esquecer do “fiasco” matinal. "É isso, pressurização e despressurização, altas altitudes, turbulência, fuso horário... tudo isso deve ter contribuído para esse precoce atrevido."
Vejam que eu buscava avidamente por uma teoria.
Eu me encontrava em pé, próximo a porta, escutando música e observando a paisagem.
Um rapazinho paquistanês me olhou, e mandou a pérola a qual eu não necessitava hoje.
_ O senhor quer se sentar?
Olhei para o lado, buscando desesperadamente o tal “senhor” pra quem o lugar era oferecido.
Quem era o “senhor?” O próprio. Eu.
Recusei por diversas vezes a oferta, mas a peste estava decidida a me fazer sentir velho. Aceitei.
Ahhhh, lembrei. No Paquistão, quando se vê um estrangeiro andando no metro, é normal se dar o lugar a ele, como cortesia.
Ufa! Adoro minhas teorias, mesmo sabendo que nao há metrô no paquistão.
Na mesma noite, resolvi ligar para a minha mãe em São Paulo. Começamos a falar sobre convênio médico para minha sobrinha.... oops, filha da minha irmã, sobrinha do meu irmão.
_ Não filho – dizia minha mãe – convênio pra criança é baratinho, caro é pra gente da nossa idade....
A velha está louca, não há outra explicação. Ela diz “nossa idade”, como se estivéssemos na mesma faixa etária, ou pior, na mesma coluna da tabela do convênio.
Embora goze de perfeita jovialidade e uma forma física de dar inveja no inícios de seus 50, ela tem 20 anos a mais que eu, não posso fazer parte desse “nossa idade” dela.
Passado alguns dias, rio muito sobre essa historia de diferença etária, de envelhecer, de ter cabelos brancos.
A idade está na na mente, no espirito. A gente é jovem enquanto a mente for jovem. Há momens de 50 com cabeca de 22, e rapazes de 20, com maturidade de 30. Cada um temos um histórico, um percurso.
O que se há de fazer contra o correr do tempo? Nada, apenas viver.
A areia está deslizando muito mais rápido na ampulheta de nossas vidas. Peguemos as oportunidades, pois um grão derramado, é muito tempo perdido.
Até breve,
Cássio Leandro
Porque essa sensação de que as 24 horas, os 365 dias estão em velocidade avançada?
Sol e Lua são os protagonistas na criação dos calendários, sejam eles o cristão, o hebreu, o islâmico ou mesmo o calendário gregoriano. Esses dois astros tinham cada um sua importância na elaboração de períodos de acordo com cada povo.
Mas o que acontece hoje? O sol e a lua correndo mais rápido, ou seria a Terra que está fora de eixo? Não sei se haveria uma resposta coerente, mas o tempo está passando depressa e consequentemente apressando vida de todos nós.
Nessa minha rotina de sobe em um país e desce em outro, tento criar hábitos normais como esporte e lazer; uma tarefa quase impossível uma vez que o fuso horário é um contrapeso importante. Ganho ou perco horas, dependendo onde me encontro no planeta. Gostaria de encontrar um lugar onde o tempo parasse, ou diminuisse a passada, dando uma pausa pra gente respirar.
Certo dia, acordei as 15h00, e depois de um farto prato de cereal, fui tomar meu banho.
Como qualquer ser humano vaidoso, há uma averiguação facial pesada em frente ao espelho e... o que eu encontrei, me deixou mais triste. Um fio de cabelo.. e não foi no meu paletó. Foi na cabeça mesmo, e era branco.
Fui obviamente acometido de um certo pânico, algumas palavras de baixo calão me escaparam... tudo absolutamente normal quando não se está preparado a ver um fio de cabelo branco que resolveu antecipar-se em anos.
Embora transtornado, me veio na memória uma cena cômica de minha infância: minha avó tingindo o cabelo com henê maru, utilizando para isso uma escova de dentes... as mãos todas sujas, coitada. Imagino agora o seu empenho em tal empreita. Se o eu com um fio estava fora de mim, imagino ela com todo um tufo de raiz grisalha.
Não, hoje vivemos na era do Ipad, Bluetooth, wi-fi. Se até computadores se desvencilharam dos fios, porque eu haveria de ter um em minha cabeça? E branco? Ainda estou longe da metade da minha trigésima decada de vida, e um fio de cabelo branco resolve antecipar a próxima fase da minha existência.
Sinceramente essa descoberta foi uma experiência nada agradável, por mais perfeita que esteja a harmonia do binômio "meu corpo/minha idade".
Fui então ao banco. Nada como uma volta no novo metrô de Dubai para me fazer esquecer do “fiasco” matinal. "É isso, pressurização e despressurização, altas altitudes, turbulência, fuso horário... tudo isso deve ter contribuído para esse precoce atrevido."
Vejam que eu buscava avidamente por uma teoria.
Eu me encontrava em pé, próximo a porta, escutando música e observando a paisagem.
Um rapazinho paquistanês me olhou, e mandou a pérola a qual eu não necessitava hoje.
_ O senhor quer se sentar?
Olhei para o lado, buscando desesperadamente o tal “senhor” pra quem o lugar era oferecido.
Quem era o “senhor?” O próprio. Eu.
Recusei por diversas vezes a oferta, mas a peste estava decidida a me fazer sentir velho. Aceitei.
Ahhhh, lembrei. No Paquistão, quando se vê um estrangeiro andando no metro, é normal se dar o lugar a ele, como cortesia.
Ufa! Adoro minhas teorias, mesmo sabendo que nao há metrô no paquistão.
Na mesma noite, resolvi ligar para a minha mãe em São Paulo. Começamos a falar sobre convênio médico para minha sobrinha.... oops, filha da minha irmã, sobrinha do meu irmão.
_ Não filho – dizia minha mãe – convênio pra criança é baratinho, caro é pra gente da nossa idade....
A velha está louca, não há outra explicação. Ela diz “nossa idade”, como se estivéssemos na mesma faixa etária, ou pior, na mesma coluna da tabela do convênio.
Embora goze de perfeita jovialidade e uma forma física de dar inveja no inícios de seus 50, ela tem 20 anos a mais que eu, não posso fazer parte desse “nossa idade” dela.
Passado alguns dias, rio muito sobre essa historia de diferença etária, de envelhecer, de ter cabelos brancos.
A idade está na na mente, no espirito. A gente é jovem enquanto a mente for jovem. Há momens de 50 com cabeca de 22, e rapazes de 20, com maturidade de 30. Cada um temos um histórico, um percurso.
O que se há de fazer contra o correr do tempo? Nada, apenas viver.
A areia está deslizando muito mais rápido na ampulheta de nossas vidas. Peguemos as oportunidades, pois um grão derramado, é muito tempo perdido.
Até breve,
Cássio Leandro
quarta-feira, 31 de março de 2010
PUDONG, PLEASE!!!
Costumes e valores definem o que chamamos de cultura.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, existem atualmente 191 países no mundo, os quais variam também seus valores de região em região.
Um pais grande como a China por exemplo, tem certamente hábitos diferentes em Pequim, Xangai ou Ghanzou, mas a essência não deixa de ser a mesma.
A China tem como meta em 2010 crescer 8 por cento, e em algum momento durante o ano passará a ser a segunda maior economia mundial.
Tal impulso no Produto Interno Bruto desse pais, elevou de tabela a moral do mandarim; escolas de línguas procuram professores do idioma para saciar a demanda.
Mas porque falo tanto da China?
A resposta é simples: Porque é só lá que eu me lasco!
Em fevereiro, fui premiado com duas idas consecutivas a Xangai e saindo da Flexx na segunda feira de carnaval, passei brevemente por Dubai e toquei pra China.
Mesmo cansado, saí para averiguar as muambas (a gente pode morar fora, estudar em faculdade de nome, falar idiomas, mas a gente nunca esquece as origens....)
Na semana seguinte, assim que cheguei, me dirigi a 25 de março/Santa Ifigenia local pra comprar minhas encomendas.
Pechincho nos Ipods, pechincho nas cuecas de marca, nos Iphones, nos pendrives, nas calças jeans, jaquetas, meias, bermudas e saio de lá 3 horas depois cheio de eletrônicos e roupas de marca.
Naquele momento, eu era um sacoleiro feliz.
Subi para pegar o taxi para me levar pro distrito de Pudong, onde ficava o hotel. De acordo com o concierge, era só dizer pro taxista Pudong, que ele me levaria até aquela avenida principal e eu reconheceria o hotel.
Depois do que passei em Pequim, eu me precavejo. Levei comigo o cartão do hotel onde estava escrito em mandarim a localidade certa. Não queria problemas.
Mas eu perdi o cartão.
O primeiro taxista não entendeu, o segundo tampouco, logo eu comecei a entoar PUDONG de diversas formas:
_ PUDONG!
_ PUDÓNG!
_ PUUUDUNG!
_ PUDOOOONNG!
Quatro taxistas a minha volta e nenhuma reacao deles foi obtida por mim.
As sacolas começaram a ficar pesadas, senti as axilas e virilhas se embevecerem de sudorese, a paisagem começou a ficar amarela, e o nervosismo bater.
Alguma coisa me dizia que era esse G no final da palavra que encrencava, que era um G seco e não um G ordinário que temos em nosso alfabeto. Na hora do apuro a gente vira até médium, recebendo do além teorias para a pronúncia do G em mandarim.
Não desistia:
_ PUDNG!
_ PDONG!
_ PIDOG!
Comecei a encurtar a onomatopéia, pois meus recursos fonoaudiológicos escasseavam.
Eu buscava com todos os elementos que eu tinha no corpo; um gesto, um som que pudesse identificar o caminho de volta pro hotel. Eu usava garganta, amídala, língua, bochecha, braço, mãos, cabeça, expressão facial, tudo isso combinado. Os que estavam perto, assistiam a um balé, e um show de expressões faciais e corpóreas a cada final de onomatopéia buscando PUDONG.
Recebi uns tapinhas nas costas, eu sabia que era a ajuda.
_ Estamos no mesmo hotel, você ta perdido?
Depois de tudo explicado, ele tirou o cartão do hotel do bolso e mostrou aos chineses que estavam a nossa volta.
Foi uníssono:
_ PUDONG!
Era o que eu estava dizendo com boca, braços e feições há exatamente trinta minutos.
O problema era de fato no G. A entidade estava certa.
De volta ao hotel, eu não me conformava com o fato desse povo não falar Inglês. Porque? Facilitaria tanto a vida da gente...
Resolvi tentar me alimentar pelas redondezas. Precavi-me, levando comigo varios cartoes com referencias do hotel.
O povo Chinês tem uns hábitos que diferem um pouco dos nossos. Eles não têm vergonha de nada que seja natural do ser humano. Não escondem, não são discretos e não há nada no diminutivo pra eles. Dessa forma, não tem arrotinho, não tem punzinho e nem assoadinha de nariz. Com eles é tudo na base do ÃO, e dividem contigo sem o menor constrangimento. Andar na rua na China é um festival de sons.Homens e veiculos mesclam seus sons entre bozinas, arranques e freadas.
Pizza Hut, a famosa que salvou minha vida em Pequim estava há exatamente dois quarteirões do hotel. Era uma portinha onde tinha o recepcionista (que não falava inglês), e o rapaz da cozinha que preparava os pedidos.
Dez minutos se passaram para que pudéssemos chegar ao acordo de que a pizza que eu mostrava no cardápio era a que eu queria.
Idos quinze minutos mais, o da cozinha embalava minha pizza e resolvi pagá-la, quando o recepcionista sai de trás do balcão, passa por mim, abre a porta da rua e puxa do fundo da alma um escarro grosso e cospe uma medusa maior do que aquelas que nos deparamos em Caraguatatuba.
Numa naturalidade, limpa a boca com a manga da blusa, volta pra trás do balcão, pega a minha pizza, me entrega e com um sorriso de dentes bem coloridos me diz:
_ THANK YOU AND GOOD NIGHT!
Você gosta de viajar? Tem o espírito de viajante?
A China é um bom lugar pra se começar.
Abraçosii
De acordo com a Organização das Nações Unidas, existem atualmente 191 países no mundo, os quais variam também seus valores de região em região.
Um pais grande como a China por exemplo, tem certamente hábitos diferentes em Pequim, Xangai ou Ghanzou, mas a essência não deixa de ser a mesma.
A China tem como meta em 2010 crescer 8 por cento, e em algum momento durante o ano passará a ser a segunda maior economia mundial.
Tal impulso no Produto Interno Bruto desse pais, elevou de tabela a moral do mandarim; escolas de línguas procuram professores do idioma para saciar a demanda.
Mas porque falo tanto da China?
A resposta é simples: Porque é só lá que eu me lasco!
Em fevereiro, fui premiado com duas idas consecutivas a Xangai e saindo da Flexx na segunda feira de carnaval, passei brevemente por Dubai e toquei pra China.
Mesmo cansado, saí para averiguar as muambas (a gente pode morar fora, estudar em faculdade de nome, falar idiomas, mas a gente nunca esquece as origens....)
Na semana seguinte, assim que cheguei, me dirigi a 25 de março/Santa Ifigenia local pra comprar minhas encomendas.
Pechincho nos Ipods, pechincho nas cuecas de marca, nos Iphones, nos pendrives, nas calças jeans, jaquetas, meias, bermudas e saio de lá 3 horas depois cheio de eletrônicos e roupas de marca.
Naquele momento, eu era um sacoleiro feliz.
Subi para pegar o taxi para me levar pro distrito de Pudong, onde ficava o hotel. De acordo com o concierge, era só dizer pro taxista Pudong, que ele me levaria até aquela avenida principal e eu reconheceria o hotel.
Depois do que passei em Pequim, eu me precavejo. Levei comigo o cartão do hotel onde estava escrito em mandarim a localidade certa. Não queria problemas.
Mas eu perdi o cartão.
O primeiro taxista não entendeu, o segundo tampouco, logo eu comecei a entoar PUDONG de diversas formas:
_ PUDONG!
_ PUDÓNG!
_ PUUUDUNG!
_ PUDOOOONNG!
Quatro taxistas a minha volta e nenhuma reacao deles foi obtida por mim.
As sacolas começaram a ficar pesadas, senti as axilas e virilhas se embevecerem de sudorese, a paisagem começou a ficar amarela, e o nervosismo bater.
Alguma coisa me dizia que era esse G no final da palavra que encrencava, que era um G seco e não um G ordinário que temos em nosso alfabeto. Na hora do apuro a gente vira até médium, recebendo do além teorias para a pronúncia do G em mandarim.
Não desistia:
_ PUDNG!
_ PDONG!
_ PIDOG!
Comecei a encurtar a onomatopéia, pois meus recursos fonoaudiológicos escasseavam.
Eu buscava com todos os elementos que eu tinha no corpo; um gesto, um som que pudesse identificar o caminho de volta pro hotel. Eu usava garganta, amídala, língua, bochecha, braço, mãos, cabeça, expressão facial, tudo isso combinado. Os que estavam perto, assistiam a um balé, e um show de expressões faciais e corpóreas a cada final de onomatopéia buscando PUDONG.
Recebi uns tapinhas nas costas, eu sabia que era a ajuda.
_ Estamos no mesmo hotel, você ta perdido?
Depois de tudo explicado, ele tirou o cartão do hotel do bolso e mostrou aos chineses que estavam a nossa volta.
Foi uníssono:
_ PUDONG!
Era o que eu estava dizendo com boca, braços e feições há exatamente trinta minutos.
O problema era de fato no G. A entidade estava certa.
De volta ao hotel, eu não me conformava com o fato desse povo não falar Inglês. Porque? Facilitaria tanto a vida da gente...
Resolvi tentar me alimentar pelas redondezas. Precavi-me, levando comigo varios cartoes com referencias do hotel.
O povo Chinês tem uns hábitos que diferem um pouco dos nossos. Eles não têm vergonha de nada que seja natural do ser humano. Não escondem, não são discretos e não há nada no diminutivo pra eles. Dessa forma, não tem arrotinho, não tem punzinho e nem assoadinha de nariz. Com eles é tudo na base do ÃO, e dividem contigo sem o menor constrangimento. Andar na rua na China é um festival de sons.Homens e veiculos mesclam seus sons entre bozinas, arranques e freadas.
Pizza Hut, a famosa que salvou minha vida em Pequim estava há exatamente dois quarteirões do hotel. Era uma portinha onde tinha o recepcionista (que não falava inglês), e o rapaz da cozinha que preparava os pedidos.
Dez minutos se passaram para que pudéssemos chegar ao acordo de que a pizza que eu mostrava no cardápio era a que eu queria.
Idos quinze minutos mais, o da cozinha embalava minha pizza e resolvi pagá-la, quando o recepcionista sai de trás do balcão, passa por mim, abre a porta da rua e puxa do fundo da alma um escarro grosso e cospe uma medusa maior do que aquelas que nos deparamos em Caraguatatuba.
Numa naturalidade, limpa a boca com a manga da blusa, volta pra trás do balcão, pega a minha pizza, me entrega e com um sorriso de dentes bem coloridos me diz:
_ THANK YOU AND GOOD NIGHT!
Você gosta de viajar? Tem o espírito de viajante?
A China é um bom lugar pra se começar.
Abraçosii
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Desacertos
Desacertos
Primeiramente, minhas desculpas pela ausência de noticias no blog. Poderia desfilar nas entrelinhas inúmeras justificativas, entretanto sendo fiel ao propósito do blog de retratar a verdade, confesso que a razão foi preguiça mesmo. Não, não foi falta de assunto, pois nessa minha profissão temporária coisas inusitadas acontecem a todo momento. Eu queria mesmo escrever algo diferente de todos os relatos que vocês leram ate agora. Mas o que?
Uma simples mensagem de Prospero Ano Novo? Não, um tanto piegas para mim.
Está fazendo um ano que vivo no Oriente Médio, e resolvi fazer um balanço de tudo isso, de como eu vim parar aqui.
Fico imaginando se eu tivesse acertado tudo na minha vida, onde eu estaria agora, e fazendo o que? Sendo um diplomata, dando continuidade ao que estudei na Franca? Um piloto de avião se tivesse tirado meu brevê de piloto comercial? Dono de uma grife famosa, se não tivesse falido? Casado e com filhos, se eu não fosse um “fora do formato social”?
Como é engraçada a maneira que a vida nos leva através de nossos desacertos. Não diria erros, mas acidente de percurso, mudança de opinião relacionada a um determinado caminho a ser seguido.
Existem nessa nossa passagem na Terra duas coisas muito importantes na almejo de nossos ideais: vontade e tempo para tal realização .
Por mais empenhado que estejamos em nossa busca , nos deparamos com percalços; alguns difíceis de serem superados e que vão ganhando ou perdendo valores em nossas concepções de acordo com o passar do tempo. O que era importante ontem perde ou ganha importancia hoje ou amanha. Pode todavia, continuar sendo a vida toda de suma importancia.
Num passado não tão distante eu não me via fazendo outra coisa senão piloto comercial. A maquina me fascinava a tal ponto de ficar estudando horas a fio a sua maneira de funcionar. Pois é, mas não deu.
Outro dia eu estava na beira da piscina de um hotel em Cingapura, comendo Noodles frita (algo parecido com o macarrão do Yaksoba), pensando “como eu pude desacertar tanto nessa minha vida?”
Mas perae, do que estava eu reclamando? Eu estava comendo Noodles num hotel luxuoso em Cingapura. Noodles com azeitonas pretas crocantes.
Perae de novo, azeitonas pretas crocantes? Peguei um pedaço que ainda permanecia em meus lábios e notei que era a bunda de um besouro. Ia chamar o garçom para dar um tamanho esculacho, quando olho para o meu prato e vejo que formigas e besouros faziam parte da inusitada receita. Comi tudo, estava muito bom.
Continuei matutando sobre meus desacertos, com um pouco mais de otimismo desta vez. Vários deles me levaram até onde estou hoje, sem que eu sequer um dia tenha pensado em fazer o que faço e aonde faço.
O Ano de 2009 foi um ano de reorganização para mim, onde bati o pé no fundo do poço e caminhei para a surface. Um ano muito bom, onde descobri que tenho sorte, que tenho pouquíssimos amigos, incontestavelmente fiéis. Um ano, que me levou a apuros em Pequim, situações hilárias na Tanzânia e Sri Lanka, tenis roubado na India, a descobrir Austrália e Nova Zelândia. Foi o ano em que colhi coisas muito boas e apaixonantes resultadas de um desacerto no passado.
A lição que tiro de tudo isso, é que não devemos nunca nos entristecermos por algo não ter acontecido da maneira a qual desejávamos. A vida sincroniza e funciona maravilhosamente com os nossos desacertos. Seremos felizes sim, nos apaixonaremos muitas e muitas vezes, brincaremos carnaval, choraremos muito também... o desacerto faz parte, e a gente tem que aprender a viver com ele, sem frustrações.
Agora sei que onde quer que eu esteja, andando de maria fumaça ou elefante, comendo qualquer prato exótico, curtindo o lago do Ibirapuera num domingo com um amigo, hoje ou amanha, quaisquer sejam os percalços e meus desacertos, continuarei sempre focado na realizacao do meu ideal Rosa e Carvão. Este, não perderá importancia. Nunca!
Um feliz 2010 pra todos nos,
Cassio Leandro
Primeiramente, minhas desculpas pela ausência de noticias no blog. Poderia desfilar nas entrelinhas inúmeras justificativas, entretanto sendo fiel ao propósito do blog de retratar a verdade, confesso que a razão foi preguiça mesmo. Não, não foi falta de assunto, pois nessa minha profissão temporária coisas inusitadas acontecem a todo momento. Eu queria mesmo escrever algo diferente de todos os relatos que vocês leram ate agora. Mas o que?
Uma simples mensagem de Prospero Ano Novo? Não, um tanto piegas para mim.
Está fazendo um ano que vivo no Oriente Médio, e resolvi fazer um balanço de tudo isso, de como eu vim parar aqui.
Fico imaginando se eu tivesse acertado tudo na minha vida, onde eu estaria agora, e fazendo o que? Sendo um diplomata, dando continuidade ao que estudei na Franca? Um piloto de avião se tivesse tirado meu brevê de piloto comercial? Dono de uma grife famosa, se não tivesse falido? Casado e com filhos, se eu não fosse um “fora do formato social”?
Como é engraçada a maneira que a vida nos leva através de nossos desacertos. Não diria erros, mas acidente de percurso, mudança de opinião relacionada a um determinado caminho a ser seguido.
Existem nessa nossa passagem na Terra duas coisas muito importantes na almejo de nossos ideais: vontade e tempo para tal realização .
Por mais empenhado que estejamos em nossa busca , nos deparamos com percalços; alguns difíceis de serem superados e que vão ganhando ou perdendo valores em nossas concepções de acordo com o passar do tempo. O que era importante ontem perde ou ganha importancia hoje ou amanha. Pode todavia, continuar sendo a vida toda de suma importancia.
Num passado não tão distante eu não me via fazendo outra coisa senão piloto comercial. A maquina me fascinava a tal ponto de ficar estudando horas a fio a sua maneira de funcionar. Pois é, mas não deu.
Outro dia eu estava na beira da piscina de um hotel em Cingapura, comendo Noodles frita (algo parecido com o macarrão do Yaksoba), pensando “como eu pude desacertar tanto nessa minha vida?”
Mas perae, do que estava eu reclamando? Eu estava comendo Noodles num hotel luxuoso em Cingapura. Noodles com azeitonas pretas crocantes.
Perae de novo, azeitonas pretas crocantes? Peguei um pedaço que ainda permanecia em meus lábios e notei que era a bunda de um besouro. Ia chamar o garçom para dar um tamanho esculacho, quando olho para o meu prato e vejo que formigas e besouros faziam parte da inusitada receita. Comi tudo, estava muito bom.
Continuei matutando sobre meus desacertos, com um pouco mais de otimismo desta vez. Vários deles me levaram até onde estou hoje, sem que eu sequer um dia tenha pensado em fazer o que faço e aonde faço.
O Ano de 2009 foi um ano de reorganização para mim, onde bati o pé no fundo do poço e caminhei para a surface. Um ano muito bom, onde descobri que tenho sorte, que tenho pouquíssimos amigos, incontestavelmente fiéis. Um ano, que me levou a apuros em Pequim, situações hilárias na Tanzânia e Sri Lanka, tenis roubado na India, a descobrir Austrália e Nova Zelândia. Foi o ano em que colhi coisas muito boas e apaixonantes resultadas de um desacerto no passado.
A lição que tiro de tudo isso, é que não devemos nunca nos entristecermos por algo não ter acontecido da maneira a qual desejávamos. A vida sincroniza e funciona maravilhosamente com os nossos desacertos. Seremos felizes sim, nos apaixonaremos muitas e muitas vezes, brincaremos carnaval, choraremos muito também... o desacerto faz parte, e a gente tem que aprender a viver com ele, sem frustrações.
Agora sei que onde quer que eu esteja, andando de maria fumaça ou elefante, comendo qualquer prato exótico, curtindo o lago do Ibirapuera num domingo com um amigo, hoje ou amanha, quaisquer sejam os percalços e meus desacertos, continuarei sempre focado na realizacao do meu ideal Rosa e Carvão. Este, não perderá importancia. Nunca!
Um feliz 2010 pra todos nos,
Cassio Leandro
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