Pausa

Então, já que abriste a página, desligues teu blackberry, o msn e o skype e dedique-se quinze minutos de leitura nesse diario...



domingo, 26 de abril de 2009

A IMPORTANCIA DA LOGOMARCA NA VIDA DE UM ATREVIDO

Falaê...
Essa vida está realmente me cansando. Não faço nada aqui, apenas vou pra academia e fico esperando o próximo vôo. As vezes me aborreço e vou pra algum hotel que tem parcerias com a empresa, e fico lá, sentado na beira da piscina esperando o tempo passar.
Saudade de um tanto de gente que não dá nem pra falar; alguns deles matarei a saudades em maio, pois vôo pra São Paulo, ficando apenas 29 horas por ai. Bom, vamos ao texto.
Subtítulo:

A LOGOMARCA E O ATREVIMENTO

A IMPORTANCIA DA LOGOMARCA NA VIDA DE UM ATREVIDO
Estava ansioso pois seria minha primeira vez na Ásia. Ansioso também, pois estaria a bordo um grande amigo que a muito eu não via.

Depois do jantar, ficamos papeando ali perto da porta no fundo do avião; o dia já amanhecia (íamos contra o sol). Nas vírgulas de nossa conversa, espiávamos o Himalaia que se impunha grandiosamente sob a aeronave. O Sebastien se tornou um grande amigo, daqueles que conta muito em nossas vidas. Nos conhecemos há anos atrás, na época da Sorbonne.

Marcamos de nos encontrarmos em frente a uma estação de metrô no centro de Pequim, pois ele me conduziria a “25 de marco local”.
No caminho para o hotel, eu desfrutava do orgasmo de estar numa paisagem desconhecida, com um povo totalmente diferente. Só quem tem o gene nômade no sangue para saber o que eu sentia. Larguei as coisas no quarto, e pedi para o concièrge explicar ao taxista onde eu queria ir.

No transito, fique apreensivo ao ver bicicletas, carros, patinetes, taxi-bicicleta, atravessarem uns o caminho dos outros sem o menor pudor.
Desci do táxi e comecei a procurar pelo Sebastien. Estava frio em Pequim e eu estava com uma blusa de lã que mostrava nitidamente o corpo de árdua academia.

Umas meninas pediram pra tirar foto comigo. Estranhei, afinal não sou tudo isso... mas olhando ao redor, me lembrei daquela frase que denigre um feio: “fulano não é bonito nem aqui nem na China”. Isso é realmente um insulto muito grande, pois na china, todo mundo é... igual. Me perguntei porque queriam tirar fotos comigo, aí me liguei que na china não tem negão. Bom, não podia perder o foco, precisava encontrar o Sebastien para me levar onde é que tinha Iphone por 200,00 reais. Ele não estava lá. Andei pela redondeza, fui até a catraca do metrô (senti mais uns olhares em minha direção), e nada. Uma leve sensação de que eu estava perdido e que a coisa ia ficar pior, começou a me atravessar o espírito. Tentei pedir informação para saber se havia outra saída do metrô, mas ninguém me respondia. Ninguém falava Inglês; meu desespero me fez tentar o Francês. Nada. Português, espanhol... acabou meu repertório. Vi que eu estava simplesmente ferrado. Já sentia o sovaco embevecido com a sudorese. O ruim não era estar perdido e tentar conseguir informação. O frustrante era que, além de não conseguir, ter que sorrir pra sair na foto com as crianças de uma escola, que não paravam de pedir pra posar. Aquilo estava me incomodando. Ninguém dava a mínima para o que eu falava ou minha agonia. Senti uma pontada na barriga. Porque ô diacho, quando estamos numa situação a qual não temos controle, é logo “a boca do Antônio”, que abandona a gente em primeiro? Estava ferrado. Eu não conseguia me fazer compreender em nada, e acho que no caso de um piriri no centro de Pequim, eu não teria COMO pedir ajuda.

O instinto de sobrevivência falou mais alto. Peguei pelo braço uma chinesinha que veio pedir pra tirar foto, e saí andando com ela. Cheguei na frente de um telefone público e comecei a desesperadamente bater no aparelho, tirar o telefone do gancho, fazendo de conta que discava e que queria falar com alguém. O povo parou pra me ver encenar... era motivo de cochichos e olhares.
Ela entendeu, e me levou para comprar um carão telefônico, e liguei para o Sebastien. Tudo isso, ou só isso, aconteceu em apenas 1h45. Ou seja, consegui comprar um cartão telefônico em Pequim em 1h45.

Com seu sotaque pesado, e aquela brabeza marroquina, ele respondeu ao telefonema:
_ Onde você está? Estou esperando você tem muito tempo já.
_ Eu não sei.
_ Como não sabe, você não pegou o táxi?
Concluímos que o taxista me havia deixado no lugar errado.
_ Cássio, então você pega um taxi....
_ NÃO!! VOCÊ VEM ME BUSCAR AQUI E AGORA. E RÁPIDO. Ele sentiu o desespero e nervosismo.
_ Tudo bem, me descreva onde você está, me dá uma referência.
_ Tô num cruzamento com um farol no meio.
Parece tosco, mas era o que eu podia descrever, não sabia ler aqueles tracinhos para poder decifrar o nome da rua. Sem contar, que meu cérebro a essa altura, estava borbulhando, e a cabeça latejando.
_ Cássio, como você vai querer que eu “vai” até aí, se você não sabe dizer nada.
Ergui a cabeça em direção aos céus, como se colocasse meus neurônios em ordem...
No alto de um edifício havia em neon, a marca da Philips, e no prédio da frente...
_ Estou no cruzamento da rua, que tem um prédio com a logomarca da Philips em cima, e no prédio da frente, tem a logomarca da LG. No pé desse prédio, tem uma Pizza Hut enorme...
_ Já sei, estou indo...
Ufa... Hoje, dias depois, vi que o fato de ser um cara viajado e falar idiomas, não me dá autoridade alguma para subestimar um lugar desconhecido. Fui atrevido. Com toda essa bagagem e tarimba, dancei bonito em Pequim. Me deu a sensação de ter sido o Bozo dos chineses durante aquela tarde... fui o escárnio em pessoa na porta daquela estação de metrô.
A noite fomos jantar num Pf chinês, e depois ficamos andando por umas ruelas atrás da cidade proibida, andamos umas 3h. Paramos em um barzinho simpático, com mangás nas paredes... tomamos cerveja de gengibre, rimos do passado, comentamos o presente...

A vida tem mesmo dessas coisas, de fazer com que pessoas desaparecidas se encontrem em lugares onde nunca pensaríamos estar. O acaso rende uma viagem muito mais interessante.

Abraços