Pausa

Então, já que abriste a página, desligues teu blackberry, o msn e o skype e dedique-se quinze minutos de leitura nesse diario...



terça-feira, 2 de junho de 2009

EU VIM DE LÁ, EU VIM DE LÁ, PEQUENININHO....

Ae... um salve pra todo mundo!
Nao vejo a hora de fazer a postagem no blog. Havia esquecido o quanto gosto de escrever.
Gostaria de poder dividir com todos um cotidiano robusto de detalhes da vida dubaiana, entretanto nao tenho vida social aqui. Minhas atividades se resumem a ir para a academia e ficar sentado na beira da piscina de alguns hoteis com minha unica amiga Clara Estela.
Uma morena bonita, de olhos esbugalhados, cabelos compridos, sorriso franco. Em contrapartida, è um pouco egocêntrica, fala o que der na telha, um tanto chata e prepotente que as vezes me pergunto como è que pôde haver uma sintonia entre nossas personalidades.
Clara Estela terminou o colegial e com muito sacrificio, fez um cursinho de inglês nessas escolinhas que encontramos uma em cada bairro, em simultâneo com o emprego que tinha nas casas Bahia. Terminou o cursinho, e hoje trabalhamos na mesma empresa em Dubai.
Particularmente me divirto com essa moça, principalmente com expontaniedade de suas respostas. Se perguntada sobre sua naturalidade, num tom sério dispara:
_ Sou filha de pai de Mauá e mae de Barueri. – deixando o interlocutor supreso com a precisao genealógica.
Estávamos, Clara Estela e eu, na beira da piscina no topo de um hotel aqui em Dubai. Como de hábito, nao fazíamos nada. Bebíamos um suco escutando Ipod, dedos do pè em forma de leque… vida de Pachá, quando decidiu ligar para sua irma em Sao Paulo.
_ Vou ligar do celular mesmo, sò para dizer um “oi básico” .
Compôs o número no telefone móvel, uma última sugada no suco, costas no respaldo da cadeira, uma tomada de fôlego…
_ Alô….. oi, alôôôô… sou eu, Clara Estela, onde você est….. – nao terminou a frase e desligou bruscamente o telefone.
_ O que aconteceu? - perguntei preocupado
Levou um tempo para que ela respondesse. Tinha no rosto um olhar perdido no horizonte.
_ Nao estava escutando o que ela dizia, aí, de repente veio uma campainha e uma voz: “estaçaaao terminaal Corinthians Itaquera…”. Foi mais forte que eu, desliguei.

Subtitulo:

VISITANDO OS PRIMOS DISTANTES

Continuo no ecstasy desse trabalho. Descubro lugares, pessoas e culturas diferentes, e cotinuo me deliciando feito criança em festa de cosme.
Receio, confesso, de que um dia isso passe, e que visitar um pais seja apenas “mais um voo”. Por hora, isso ainda está longe de acontecer.
Nesse meu segundo mês de voo, estava febril para visitar a Africa; queria ver preto de verdade, da Africa… ver um pouco de onde vem o excesso de melanina da minha pele.
Primeiramente, tentei trocar um voo para a Nigèria, mas me colocaram para a Africa do Sul. Frustrante para mim, visto que loiros de olhos azuis fazem parte da paisagem étnica local – nada contra loiros de olhos azuis, cuidado com a má interpretaçao –
Era época de eleiçao por lá, e pelo pouco que conversei com algumas pessoas, pude ver que ainda é tensa a relaçao entre negos e brancos, no pós-apartheid.
Um outro lugar muito interessante, foi a Tanzânia, capital Dar es Salaam.
O aeroporto internacional, me lembrou uma rodoviária de cidade pequena nordestina. Nao havia nada. Uma semelhança com a rodoviària do Tietê, é que as pessoas ficavam penduradas na grade, esperando por algum parente.
Do lado de fora, tivemos que esperar pelo onibus – vou chamar de ônibus- que nos levaria para o hotel, o que me deixou a mercê de olhares e comentàrios do povo local. Sabe quando sabemos que estao falando da gente?
Eu era o único negro da tripulaçao, acho que é por isso que se identificaram comigo.
_ MATUBU CLE CA MA LÊLÊ! – alguém gritou em minha direçao.
Esses pretos, veem um outro preto, mas esse de traços finos e rosto harmoniosamente desenhado, e se acham no direito de tirar um sarro, ou tentar a comunicaçao na lingua local. Nao preciso dizer que nenhum musculo do meu rosto se moveu em direçao ao profetizador daquela onomatopéia desconhecida. Queria deixar claro para ele que qualquer semelhança, era sim, mera – bem mera- coincidência.
_ HE MATUBU CLE CA MA LÊLÊ! – insistiu
Eu já estava desejando que o ônibus estivesse ali, mas nada da "princesinha do agreste" chegar.
Criei trauma de ser o centro das atençoes em lugares desconhecido. Pequim, ainda estava viva em meu espìrito.
A tripulaçao me olhava, e uma comissária coreana – tinha que ser – nao se conteve:
_ Acho que è com você. Nao vai responder? Traduz o que ele está falando….
No olhar que eu a lancei, ela sentiu que eu declarava naquele momento a guerra entre Brasil e Coréia.
Dois pretos se aproximaram. Um atarracado, gordo e sem pescoço, o outro magro e alto. Pela terceira vez, tentaram me falar com aquele som desconhecido. Por minha vez, de uniforme, tinha que ser muito polido:
_ Desculpe senhor, eu nao falo essa lingua, o senhor fala Inglês?
O atarracado se surpreendeu:
_ Nao fala essa língua, ou está negando suas orígens?
Era só o que me faltava. Revelei mais que depressa minha nacionalidade, e a conversa mudou de tom. Os dois, disseram alto que eu era brasileiro, e mais cinco se juntaram ao grupo. Pronto; eu novamente o Bozo, só que desta vez, na Tanzânia.
_ Brasileiro? Entao me diz a escalaçao da seleçao tri campea de 70?
Agora era chamada oral esportiva.
Porque ele nao me perguntou o elenco de “A Favorita”, que eu respondia para ele até em ordem alfabética??? Ficafazendo pergunta dificil...
Antes que pudesse dizer algo, ele mesmo me respondeu a escalaçao, e um outro preto, com uma careta horrenda e mao no queixo, teceu um comentário que me deixou muito, muito nervoso.
_ Nossa, mas o Brasil é no fim do mundo, quanto tempo de aviao até aqui? Três dias?
Vejam bem, eu estava na Tanzânia, num aeroporto internacional que parecia uma rodoviària e cheirava urina mais que banheiro do metrô, sendo sabatinado sobre futebol e tendo que escutar que o Brasil ficava no fim do mundo.
A jardineira enfim chegou, e se despediram de mim calorosamente. Quando botei o pé no primeiro degrau do ônibus, o atarracado mandou mais uma:
_ BOLA LELE QUI CA MA MOTUTU?
Senti o poder que o uniforme tem de restringir nossas açoes, mesmo que queiramos fazer um simples movimento de dedo, torna-se impossìvel…
Dia Seguinte, máquina a tira colo, saí por Dar es Salaam. Peguei balsa, andei numa espécie de “largo da concórdia” local. Sentei na calçada, comi sardinha seca com pimenta, vendida na barraquinha, e nem tive revertério. Até peguei ônibus. Tem coisas, que fazemos apenas uma vez na vida, pegar esse ônibus foi uma delas.
Nao tive tempo de ver o Kilimanjaro, tampouco ir para a ilha de Zamzibar, mas fica para a próxima. Agora os planos sao de visitar Gana, Costa do Marfim, Uganda, e Angola.
Curti muito. De longe meu melhor passeio até agora!
Próximo voo, o último do mês, é para um lugar muito distante de Dubai, um dos vôos mai longos do planeta. Ir trabalhando, ficar apenas 29 horas e voltar, vai ser dificil, ainda mais com um povo alegre, cheio da lábia, conversador e exigente. Compram a passagem em 10 vezes com o cartao do amigo, e se acham reis quando sobem a bordo da aeronave. Se acham os melhores, os mais mais… Tudo no pais deles é melhor que em qualquer outro lugar do globo…
É a única nacionalidade que quando se encontra numa situaçao justa e para nao perder a pose pregunta:
_ Você sabe com quem você està falando??...

SAO PAULO

Vivi quase dez anos na Europa e nunca senti tanta vontade de voltar para casa como sinto agora, vivendo no Oriente Mèdio. Talvez sejam os sobrinhos, ou os 47 graus celsius que tive que enfrentar indo ao mercado, que me deixam com saudades de Sao Paulo. Embora tenha feito dezena de vezes o caminho aeroporto- minha casa, desta vez eu nao desgrudava da janela… nunca imaginei que ao ver as favelinhas da marginal, ficaria feliz. Foi um tempo curto, vi apenas familia, e no domingo, dei uma passada rápida no samba. Me acabei no samba-rock, e na gafieira (que ninguém teça comentários), voei pro aeroporto, pois já estava na hora de voltar. O voo de volta, foi transtornado, pois os passageiros – muitos libaneses indo para as eleiçoes no libano -, descobriram a fatalidade do voo da air france, e alguns tinham parentes naquele mesmo vôo, que iriam para o Libano mas com escala em paris. Bom, nao havia muito o que dizer nessas horas, mas creiam, o caminho de volta para Dubai foi muito longo. É isso, queria terminar deixando aqui um pensamento para meus ex colegas da Air France, companhia a qual trabalhei durante 6 anos, e que muitas vezes estive a bordo de um A330, na rota Paris - Sao Paulo. Proximo blog será em julho, visto que estarei de férias em junho e sem muita coisa para contar. Beijo grande para todos vocês! Ps. Desculpem a acentuçao gráfica e eventuais erros, mas estou em um pc que nao tem corretor automático em português.