Pausa

Então, já que abriste a página, desligues teu blackberry, o msn e o skype e dedique-se quinze minutos de leitura nesse diario...



quarta-feira, 31 de março de 2010

PUDONG, PLEASE!!!

Costumes e valores definem o que chamamos de cultura.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, existem atualmente 191 países no mundo, os quais variam também seus valores de região em região.
Um pais grande como a China por exemplo, tem certamente hábitos diferentes em Pequim, Xangai ou Ghanzou, mas a essência não deixa de ser a mesma.
A China tem como meta em 2010 crescer 8 por cento, e em algum momento durante o ano passará a ser a segunda maior economia mundial.
Tal impulso no Produto Interno Bruto desse pais, elevou de tabela a moral do mandarim; escolas de línguas procuram professores do idioma para saciar a demanda.
Mas porque falo tanto da China?
A resposta é simples: Porque é só lá que eu me lasco!

Em fevereiro, fui premiado com duas idas consecutivas a Xangai e saindo da Flexx na segunda feira de carnaval, passei brevemente por Dubai e toquei pra China.
Mesmo cansado, saí para averiguar as muambas (a gente pode morar fora, estudar em faculdade de nome, falar idiomas, mas a gente nunca esquece as origens....)

Na semana seguinte, assim que cheguei, me dirigi a 25 de março/Santa Ifigenia local pra comprar minhas encomendas.
Pechincho nos Ipods, pechincho nas cuecas de marca, nos Iphones, nos pendrives, nas calças jeans, jaquetas, meias, bermudas e saio de lá 3 horas depois cheio de eletrônicos e roupas de marca.
Naquele momento, eu era um sacoleiro feliz.
Subi para pegar o taxi para me levar pro distrito de Pudong, onde ficava o hotel. De acordo com o concierge, era só dizer pro taxista Pudong, que ele me levaria até aquela avenida principal e eu reconheceria o hotel.

Depois do que passei em Pequim, eu me precavejo. Levei comigo o cartão do hotel onde estava escrito em mandarim a localidade certa. Não queria problemas.
Mas eu perdi o cartão.
O primeiro taxista não entendeu, o segundo tampouco, logo eu comecei a entoar PUDONG de diversas formas:
_ PUDONG!
_ PUDÓNG!
_ PUUUDUNG!
_ PUDOOOONNG!

Quatro taxistas a minha volta e nenhuma reacao deles foi obtida por mim.
As sacolas começaram a ficar pesadas, senti as axilas e virilhas se embevecerem de sudorese, a paisagem começou a ficar amarela, e o nervosismo bater.
Alguma coisa me dizia que era esse G no final da palavra que encrencava, que era um G seco e não um G ordinário que temos em nosso alfabeto. Na hora do apuro a gente vira até médium, recebendo do além teorias para a pronúncia do G em mandarim.
Não desistia:
_ PUDNG!
_ PDONG!
_ PIDOG!
Comecei a encurtar a onomatopéia, pois meus recursos fonoaudiológicos escasseavam.
Eu buscava com todos os elementos que eu tinha no corpo; um gesto, um som que pudesse identificar o caminho de volta pro hotel. Eu usava garganta, amídala, língua, bochecha, braço, mãos, cabeça, expressão facial, tudo isso combinado. Os que estavam perto, assistiam a um balé, e um show de expressões faciais e corpóreas a cada final de onomatopéia buscando PUDONG.

Recebi uns tapinhas nas costas, eu sabia que era a ajuda.
_ Estamos no mesmo hotel, você ta perdido?
Depois de tudo explicado, ele tirou o cartão do hotel do bolso e mostrou aos chineses que estavam a nossa volta.
Foi uníssono:
_ PUDONG!
Era o que eu estava dizendo com boca, braços e feições há exatamente trinta minutos.
O problema era de fato no G. A entidade estava certa.
De volta ao hotel, eu não me conformava com o fato desse povo não falar Inglês. Porque? Facilitaria tanto a vida da gente...
Resolvi tentar me alimentar pelas redondezas. Precavi-me, levando comigo varios cartoes com referencias do hotel.

O povo Chinês tem uns hábitos que diferem um pouco dos nossos. Eles não têm vergonha de nada que seja natural do ser humano. Não escondem, não são discretos e não há nada no diminutivo pra eles. Dessa forma, não tem arrotinho, não tem punzinho e nem assoadinha de nariz. Com eles é tudo na base do ÃO, e dividem contigo sem o menor constrangimento. Andar na rua na China é um festival de sons.Homens e veiculos mesclam seus sons entre bozinas, arranques e freadas.

Pizza Hut, a famosa que salvou minha vida em Pequim estava há exatamente dois quarteirões do hotel. Era uma portinha onde tinha o recepcionista (que não falava inglês), e o rapaz da cozinha que preparava os pedidos.
Dez minutos se passaram para que pudéssemos chegar ao acordo de que a pizza que eu mostrava no cardápio era a que eu queria.

Idos quinze minutos mais, o da cozinha embalava minha pizza e resolvi pagá-la, quando o recepcionista sai de trás do balcão, passa por mim, abre a porta da rua e puxa do fundo da alma um escarro grosso e cospe uma medusa maior do que aquelas que nos deparamos em Caraguatatuba.
Numa naturalidade, limpa a boca com a manga da blusa, volta pra trás do balcão, pega a minha pizza, me entrega e com um sorriso de dentes bem coloridos me diz:
_ THANK YOU AND GOOD NIGHT!

Você gosta de viajar? Tem o espírito de viajante?
A China é um bom lugar pra se começar.

Abraçosii