A vaidade é um instinto, me atreveria a dizer que um dos mais aguçados no reino animal.
A corte ao sexo oposto varia muito de animal para animal, seja ele irracional ou não. Falemos então, sobre nos, os.... racionais.
O ser humano é vaidoso; isso é fato, e atualmente, homens e mulheres em igual proporçao. O homem está adepto aos cosméticos, á cirurgia estética e cuida também do cabelo. A mulher, vai das unhas, passa pela depilação e silicone, e o chega ao cabelo, o qual deve estar sempre impecável. Tudo em seu visual pode estar em construção, mas o cabelo tem que estar sempre perfeito.
O cabelo, pela atenção exigida no cotidiano feminino, pela energia gasta em sua preparação, e também pela própria localização no corpo humano, é certamente o topo da vaidade. É em seu trato que vemos o asseio da pessoa; se gosta ou não de entreter sua aparência. Cabelos secos, falhados, sem volumes, com caspa, denotam o que há de mais negativo ao asseio pessoal.
O cabelo traça sua trajetória desde a historia antiga até os dias de hoje, deixando nos séculos XVIII, XIX, e XX um sinônimo de boas maneiras e até mesmo posses.
Resolvi ir a fundo numa pesquisa sobre o cabelo, e descobri que vem do latim Picumanus, alterado aos dias de hoje para picumã, que conota um cabelo ruim, desidratado, e feio.
O Picumanus é muito importante na vida das mulheres mundo afora, algumas até apelam para o Picumanus Emendatum (aplique), ou as que vão mais alem, colocando francamente o Picumanus Artificiallus (peruca), essa ultima tendo sua popularidade no Egito antigo, nos séculos XVI e XVII, e muito utilizada também pelo imperador Frances Louis XIV, que adorava um polpudo Picumanus artificiallus.
Vale a pena redundar, dizendo que o trato ao Picumanus ocupa grande parte do cotidiano feminino; numa sexta-feira por exemplo, pode ir do bob até a prancha (a versao eletrica do antigo pente quente). A decisão final, vai depender do ultimo programa da previsão do tempo, dizendo se vai chover ou não. Nada deixa uma mulher mais nervosa do que ser pega desprevenida pela chuva, depois de tanto trabalho pra deixar o Picumanus apresentável.A festa acaba, e ela acha um jeito de dizer que nao está bem para sair de fininho... mas com o picumanus desajeitado, ela nao fica!
Certo dia, passeando pelo centro de Entebbe, importante cidade da Uganda, avistei uma negra muito bonita, com um viscoso Picumanos alourado até a altura da cintura. Estavamos em uma especie de feira livre. Me aproximei, me apresentei como turista brasileiro, e depois de um pouco de conversa, atrevi-me a perguntar se o Picumanus era verdadeiro.
_ Se o da Beyonce é, porque o meu não haveria de ser? – respondeu soltando uma gargalhada gostosa.
O fato é que o Picumanus, de certa forma formata a mulher. Vê-la com o Picumanus ordenado ou não, faz muita diferença.
Desta vez, o acontecido se deu em Manchester, no Reino Unido. Pelas tantas da madrugada, o alarme de incêndio do hotel disparou. Achei que não era nada grave. Em Dubai, o alarme do meu prédio vive disparando e ninguém se abala. Mas não, na Inglaterra, alarme de incêndio quando dispara, é incêndio mesmo. Botei a cara pra fora do meu quarto, e presenciei algo que nunca havia visto antes. Um monte de gente descendo as escadas, correndo com filho no braço, senhoras amarrando o roupão no corredor... vi coisas ali, que nem gosto de lembrar, tampouco posso relatar aqui. Peguei meu laptop, uma blusa de frio, meu passaporte e me juntei à multidão descendo as escadarias..
Os hospedes se encontravam no estacionamento, inclusive, algumas de minhas colegas de trabalho. Todos olhávamos pra cima, em busca do tal incêndio que nos tirara dos aposentos e nos expunha (alguns de maneira demasiadamente sem pudor), aos olhos curiosos de outras pessoas.
Percebi que na correria para o estacionamento, muitas mulheres, dentre elas minhas colegas, não tiveram tempo de ordenar o Picumanus o que resultou numa catástrofe visual.
Sarrista como sou, não perdi a oportunidade de fazer algumas piadas. Ia onde estavam algumas delas, e dizia:
_ Tenho a impressão de ter te visto em algum lugar, não? Aaaaah, é você! Desculpe, é que seu cabelo estava tão diferente que nem te conheci. – e saia rindo, deixando a colega num desespero de ajeitar o Picumanus em plena madrugada fria.
A chefe este dia era uma queniana bem negra, com os dentes brancos feito marfim. Uma negra bonita, a qual eu havia percebido durante o vôo, que usava um Picumanus artificiallus modelo Coco Chanel. Por infelicidade, a pressa não a deixou centralizar o Picumanus artificiallus na cabeça, e estava meio caído pra esquerda.
Quem me conhece, sabe que eu perco o emprego, mas não a piada. Aproximei-me sem que ela me visse, e dei um jeito de esbarrar nela, conseguindo que ela me dirigisse a palavra primeiro.
_ Nossa, onde será o fogo? – perguntou
_ Não sei – disse eu, olhando também para o alto do edifício. Perae, - continuei- acho que te conheço de algum lugar, não? Só um minuto – disse eu, ajeitando o Picumanus artificiallus no centro da cabeça dela. Nao sei porque, mas quando o Picumanus ficou bem centralizado, eu tive a leve impressao de escutar um "clic", daqueles que a gente escuta quando encaixa o cabelo do playmobil. Continuei:
_ Aaaaah Anne, é voce, nem tinha te reconhecido...
Ela riu, mas não gostou muito da brincadeira. No vôo de volta, cada vez que me via, ria (e eu também, até chorar), e ia em direcao oposta a minha.
Quando descemos fui falar com ela.
_ Me desculpe, mas a intenção foi te ajudar, o alarme de incêndio pegou todo mundo de surpresa..
Ali, rimos gostoso de toda a situação. Antes de embora ela me perguntou:
_ Ai, será que alguém mais viu? Dava pra perceber que não era meu?
_ Não não, só eu vi, foi por isso que ajeitei... não queria que rissem de você. E pode ficar tranqüila, esse corte está muito na moda entre as negras, ninguém diz que não é natural. Ate minha irma usa...
Menti para agradá-la, pois minha irma usa hoje um picumanus na altura dos ombros extremamente natural. Deu trabalho, mas ela chegou la.
Moral da historia, sempre diga que o Picumanus de uma mulher (emendatum ou artificiallus), está bonito. Você mente, mas faz uma mulher feliz.