Caminho das Indias
Fala povo. Na terra dos sheiks, a vidinha de sempre. Academia e voo; nao passa disso. A unica coisa que mudou foram os termometros, que permanecem na casa dos cinquenta graus Celsius. Para nao ficar no oscio, leio, escrevo e as vezes apelo pro play station. Odeio videogames.
Quanto tomei a decisao de criar esse blog, assinei comingo mesmo a promessa de ser fiel ao que vejo e vivencio mundo afora.
Recitar-vos-ei contrariado, a minha viagem a India. Foi uma situacao embaracosa… mais do que Pequim.
Em ferias no Brasil, assistindo alguns capitulos do romance de Gloria Perez, comparei a realidade dos indianos em Dubai e aqueles de classe media alta, cheios dos panos e bijouterias que aparecem no folhetim. Aqui em Dubai, estao em todos os setores da sociedade, mas os encontramos em maior numero nas portaria dos predios, caixas de banco ou supermercados, postos de gasolina.
Me pronunciei diversas vezes sobre o choque cultural que vivo em cada voo ou destino, mas nenhum me foi tao chocante quanto ao que vivenciei desta vez.
Calcuta.
Uma favela imensa, onde pessoas lavam roupas na agua suja do meio fio, criancas fazem de piscina o esgoto a ceu aberto que tem no quintal, e outras buscando mais asseio, tomam banho de bacia com a mesma agua que a outra lavava a roupa.
Em Calcuta, tive a impressao que tudo se faz na rua. Cozinha-se na rua,, toma-se banho na rua, come-se na rua, faz-se a barba na rua, e o que voces estao imaginando, tambem na rua.
Nao terei vocabulario suficiente para vos precisar essa experiencia, mas a Madre Theresa, deveria ser canonizada por ter vivido e benevolado nessa cidade.
No veiculo de quarto rodas que nos levou ate o hotel, fui obrigado a me sentar ao lado do motorista, e com minha camera nao perdia nada… Avistei, trezentos metros a frente, uma vaca bem no meio da rua. O motorista, nada de desacelerar, e apesar de eu ser un santo, nao queria morrer em Calcuta. Discretamente disse ao condutor:
_ Look at the Cow!
Nada. Ia avancando na mesma velocidade.
_ Look at the Cooow! Looooook at the Coooooooow – repeti mais alto, mas o condutor estava inerte ao que eu dizia, da mesma maneira que o quadrupede vendo que o onibus vinha em sua direcao.
No ultimo momento, uma finta levou o veiculo pro outro lado da pista, desviando do animal. So entao, que um colega da tripulacao disse:
_ Hey Castro, aqui vaca eh sagrada, ninguem atropela.
Lembrei que ja tinha lido sobre isso em algum lugar. Na India, a gente faz cho cho pra vaca e pronto.
Meus colegas, preferiram ficar no hotel, que alias, era protegido pela policia e ficava bem no meio de uma favela… bom, ja disse que Calcuta e uma grande favela.
Resolvi ir ao orfanato da Madre Theresa, afinal, era uma das poucas atracoes da cidade. Uma unica colega resolveu seguir-me. Nao me recordo do nome dela, mas era da republica tcheca. Pegamos o taxi para ir ao orfanato.
No meio do trajeto, uma barata sobe na minha perna. Nao era essas baratinha brasileiras, que a gente mata com o pchi pchi do baygon ou Sbp. Era uma barata Indiana, Calcutaense… enorme, tinha uns sete centimetros. A matei, sem panico, obvio. Utilizei para tal proza, o telefone da tcheca – a menina da republica thceca- que estava no banco. Obviamente que ela nao gostou, mas era o que tinha na hora.
O orfanato, simples como a cidade, transmitia uma energia muito boa, passava uma grande tranquilidade.
Proxima parada, o templo do… aaah, um templo la, que tinha o Deus Shiva, e sua esposa.
O Taxi nos deixa bem na entrada de uma favela mais favela do que Calcuta. Um beco, onde tinha um monte de gente transitando e pelos gritos sabia-se que haviam comerciantes. O taxista fez sinal com que entrassemos.
Olhei pra cara da Thchea, num tom de indagacao sobre entrar ou nao ali. Entramos.
Pato, galinha, cachorro, gato, marreco, gato e bode transitavam por ali, como pessoas… era pato sem dono, cachorro sem dono, bode sem dono, e assim por diante. Como sera que sabiam qual era o marreco do fulano e o bode do ciclano. Gente vendendo coisa que nunca vi na vida, cozinhando alimentos de odores para mim nada familiares. Me senti no “Beco diagonal” do livro do Harry Potter; lugar estranho com gente esquisita.
Segui meu caminho. A tcheca apertava forte minha mao, e eu, a dela. Chegamos na entrada do templo, onde fomos acolhidos por um rapaz com um sorriso muito honesto.
_ Sejam muito bem vindos, que a energia deste lugar vos seja benefica em todos os sentidos.
Gostei. Senti que apesar do lugar –inclusive o templo- ser um favelao, as pessoas eram bem positivas.
_ A partir daqui voces vao ter que tirar os sapatos.
Nao gostei. O chao era tao imundo quanto ao do lado de for a do templo, sem contra que ali tambem haviam os animais soltos.
A tcheca nao queria tirar o Keds dela do pe, mas como nao tinhamos alternativas, sentamos num banquinho e colocamos nossos calcados junto com os demais ali.
O passeio se tornava inconveniente a cada vez que algo estranho adentrava o vao dos meus dedos do pe.
_ Eis a esposa do Deus Shiva, tem quarto bracos e tres olhos. Voce tem que ajoelhar e encostar a cabeca no pe da Deusa, em sinal de respeito.
Olho pra Tcheca, ela aprova, e eu bato a cabeca. Ela repete tambem a acao.
Continuamos andando pelo… templo, cruzando os animais, pisando naquele chao molhado, melado, grudento. Mas, quem esta na chuva eh pra se molhar, e quem ta na India…
Olehi pro pe da Tcheca, e senti uma vontade de rir ao ver aquele joanete gritante, bem curvado, pedindo pra ser limpo...
Nos deparamos agora na beira de uma piscina de agua turva, onde a frente havia novamente a imagem da Deusa.
_ Agora, voce coloca uma flor entre tuas maos, leva a cabeca, e coloca na mao da Deusa pra proteger seu irmao….
Cumpri o rito. Fiz isso sete vezes, pra irmao, irma, trabalho, saude, prosperidade, etc etc.
_ E por ultimo, voce tem que lavar a mao na agua desse tanque. Essa agua vem direto do rio Ghandi, e trocada uma vez por semana, e e sagrada.
Do nada, me veio uma sensacao de “déjà vu”. Entro em um “templo”, tiro o calcado, bato cabeca no pe da santa, jogo flor, e agora tinha que me lavar com uma agua estranha. Esse filme eu ja vi em outro canto do planeta. Muda-se o nome, mas a mandinga deve ser a mesma.
Enfim, a agua estava tao suja e fedida que eu me recusei a lavar as maos ali. O meu pe imundo, comecou a me incomodar. Peguei na mao da Tcheca, que jogou as flores dela de uma vez, e fomos em direcao a porta para calcarmos.
Nada de eu encontrar meu reebok entre os sapatos. O desespero de sair dali era tanto que eu e a Tcheca ficamos de quarto para procurar os calcados.
Ela olha pra minha cara, e por mais que eu nao quizesse traduzir aquele olhar, ela o fez:
_ Roubaram nossos sapatos. Roubaram nossos sapatos. Pegue outro, mas a gente nao pode sair descalco.
_ Eu nao vou colocar um negocio desses – esbravejei, nao querendo nem nesse momento, deixar a vaidade de lado.
Comecamos desesperadamente a tentar casar algo dali com nossos pes. Eu, com 1.86m e ela, com 1.84 – era pivosona da selecao de basquete da republica tcheca-, calcavamos 42, logo, nada feito. Indiano tem pesinho…
Saimos andando pelo beco diagonal; eu na frente, muito bravo ante ao sorriso sarcastico do povo local, e ela atras, tentando ver se achava uma chinela pra comprar naquele lugar.
Meu pe fedia, creio veemente, que o dela tambem.
Quem me conhece, sabe bem a maneira que adentrei o hotel; andando calmamente, conversasndo com a Thceca, rindo alto, pra dar a entender que eu estava muito alem do que um par de reebok. Nao estava. Se pudesse, recuperaria meu tenis.
Fazendo a curva do saguao, longe da vista dos recepcionistas, manobristas, concierges, disparamos para o elevador, na esperanca de estar o mais rapido possivel com os pes de molho.
Cansei de choque cultural, desejo agora ir para lugares distantes, mas onde esse tipo de coisa nao va me acontecer.
E entao eh isso, cumprindo a fidelidade com meu blog, voces tem o relato de algo inusitado que me ocorreu.
Termino agora, deixando abraco a todos ai…
Faaaa, nao faz a Joao, hein….
Bjs a todos
ps. Nao aderi ainda a reforma ortografica, esse lap nao tem acento mesmo. Minhas desculpas.